O Guardião e o Perguntador
Quando estamos conversando com alguém, o que em geral mais nos impacta no que ouvimos do outro sobre nós, são ideias que afetam negativamente nossa identidade.
Esta identidade, em resumo, é composta principalmente pela imagem que temos construído de nós mesmos. Ou seja: aquilo que achamos que nos define.
Suponhamos que uma criatura, Caio, questione a outra, Ruan, sobre o motivo pelo qual não parece ter executado uma ação. E naturalmente pensa e expressa algumas hipóteses (a mente é uma buscadora: busca compreensão e respostas acerca de tudo).
Simultaneamente há dentro do ouvinte, Ruan, o seu Guardião Interno. Ele verifica prontamente, as eventuais ameaças à identidade de Ruan.
E imediatamente faz a releitura do que ouviu numa escala de observação de quem está atento apenas aos riscos e ameaças à identidade.
Então ao responder a Caio, Ruan reproduz o que escutou de seu Guardião Interno. Responde de forma distorcida e irritada. E alega ter ouvido palavras que sequer foram ditas ou tonalidades que não existiram na interlocução.
O que aconteceu aqui?
Ruan tem um Guardião Interno que protege sua identidade de eventuais ataques. . Mas lhe falta um Perguntador Interno. O Perguntador Interno é uma parte essencial da consciência. É quem aplica uma relativa imparcialidade na escuta, buscando novos insights para si. É quem detém a capacidade de entrever o real sentimento que permeia a fala do outro.
E para que consiga exercer sua tarefa, o Perguntador Interno terá que se afastar um pouco do Guardião Interno.
E uma reflexão nos resta fazer: Por que será que tratamos tão bem nosso Guardião Interno, creditando a ele confiança incondicional? E o pobre do Perguntador Interno, não tem a chance de fazer uma perguntinha sequer nessa boa prosa...?
Christina Queiroz www.clinicadepsicoterapia.com.br CRP- 24.451-06